segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Francisco Daudt e nós...

São todos iguais - por Francisco Daudt - Revista da Folha 25/10/08

Fui casado por 12 anos com uma moça que tinha dois filhos. Eu, sem filhos, ajudei-a durante esse tempo todo de demandas e exigências de serviços. Por ter depressão crônica não agüentei mais e me separei para cuidar da minha doença. Agora ela me considera um FDP. Não acha injusto?

Acho, mas ela não acha. Pelo conteúdo da sua carta, desde o início, ela lhe prometeu ser a galinha que põe seus pintinhos debaixo da asa. Foi isso que lhe encantou, pois, como é do seu tipo de depressão, você é uma pessoa que precisa de cuidados permanentes e não pode cuidar de ninguém. Era propaganda enganosa. Você quis convertê-la no personagem prometido, mas foi descobrindo que era ela que queria ser cuidada, ser servida e ser prestigiada. Como você melhorou da depressão por causa dos remédios e da terapia, foi se tornando mais intolerante às divergências que tinham desde o início. Você querendo viver uma vida simples, pouca, lenta e delicada, de contemplação e sossego, e ela querendo viver uma vida "fodona", de grandes gastos e ascensão social.Você fracassou em convencê-la, e essa é sua tristeza. Mas deixe-a considerá-lo um FDP, pois é a melhor maneira de ela se consolar por tê-lo perdido. A grande maioria das mulheres separadas encontra consolo nessa idéia."Todos os homens são iguais", dizem elas com suas colegas na mesa de um bar.

Francisco Daudt é psicanalista e escreve quinzenalmente na coluna da Revista da Folha.

Sempre gostei da coluna do Francisco Daudt, até comprei o livro "Amor Companheiro", que gostei muito e recomendo. Mas quando li essa coluna ontem fiquei P. da vida. Porquê? Porque achei de um mal gosto sem fim usar da mesma generalização que acusou as mulheres separadas de fazerem, para julgá-las e carimbá-las. Por mais que o espaço seja pequeno para grandes e profundas reflexões, e também para saber os detalhes da carta do leitor, acho que simplesmente usar de um super cliché para defender o "coitadinho" do homem tão dedicado contra as terríveis e avassaladoras mulheres que não sabem valorizar os homens que têm, me poupe. Achei de um mau gosto incrível! Esperava mais, bem mais...

Então aproveito aqui para refletir. Talvez possa até ser verdadeiro que nós mulheres, tão decepcionadas que estamos com os machos modernos, em alguns momentos estejamos exagerando e generalizando, tendo difculdade de enxergar cada exemplar do sexo oposto como pessoa única, com seu potencial verdadeiro de se relacionar e desenvolver uma relação a dois saudável.

Mas pelo menos o que tenho visto é que as mulheres estão muito mais abertas à análise das situações, erros e acertos das relações, buscando melhorar, se entregar e se relacionar, enquanto a maioria dos homens é que estão repetindo chavões sobre as mulheres, para as mulheres e nas relações. Uma após a outra, repetindo modelos e chavões. E acho que um texto como esse não promove em nada uma melhora no diálogo entre os sexos - tão difícil neste momento da história moderna - muito pelo contrário.

Vide estatística do IBGE que mostra que 75% dos divórcios são pedidos pelas mulheres e portanto não acho que são elas que estão chorando por tê-los perdido.... Não que isso signifique necessariamente que elas estejam felizes, porque com certeza, desejariam estar numa relação a dois profunda, inteira e companheira. Mas na falta disso, com certeza é melhor ficar "sozinha".... eu não tenho dúvida!