sábado, 9 de agosto de 2008

Primeiro beijo dez anos depois - parte 3

Recomendo a leitura das partes 1 e 2 primeiro, nos posts abaixo

Retomando a ficha técnica: Laura, 35 anos, 12 de casada, separada há um mês

De repente, não mais que de repente, do medo fez-se o canto e da insegurança fez-se a leveza... Laura sentiu-se poderosa dançando sozinha na pista. Era como se sempre devesse estar ali, como era bom mexer o corpo, como deixara de fazer algo tão prazeroso para ela aquele tempo todo? Mas que idiota seu ex-marido que nunca tinha proposto uma noite na balada! Todos esses pensamentos surgiam ao mesmo tempo em que ela escolhia com os olhos quais daqueles homens ali poderia ser dela naquela noite... até que um dos olhados a viu. Viu, retribuiu e começou a chegar perto. E olha que era moreno, alto, bonito e sensual. Que sorte tinha dado ela.
Ela que já tinha trocado de rodinhas de amigos várias vezes, só para fingir para ela mesma que não estava sozinha na balada, parou e ficou dançando ali onde estava, permitindo que o moço se aproximasse cada vez mais.
Douglas veio de mancinho, parecendo que estava só querendo dançar. Ficou alguns segundos bem perto de Laura. Assim que ela o encarou com um sorriso escondido, ele foi ao seu ouvido:
- Você tá sozinha?
Claro que não pensou em nenhuma resposta criativa e já foi logo dando a ficha:
- Minha amiga furou comigo, fiquei sozinha, mas resolvi dançar um pouco.
Até que a sinceridade nessa hora deu super certo, pois ele foi logo dizendo para ela ficar com ele, então.
Depois das preliminares básicas: qual o seu nome, vem sempre aqui, trabalha com o quê - informações geradas em consideráveis minutos, dado o volume alto da música e a concentração de cada um em escutar - ele a convidou para tomar uma bebida no bar.
Douglas era um rapaz bacana. Sim, relativamente simpático e tranquilo, um tipo que poderia se designar "do bem" - o que foi excelente para a primeira vez de Laura. Naquele conversê inicial, descobriram que tinham uma cidade em comum, ou seja, ambos tinham um assunto para conversar. Afinal, Laura não conseguiria ir diretamente ao beijo na boca.
Outra ficha que ela foi logo dando foi sobre os filhos: tenho dois, um de 9 e outro de 5. Hoje estão com o pai, por isso eu estou aqui. Laura não percebia o quanto sua clareza poderia por tudo a perder... que o clima do lugar não pedia tanta siceridade e pormenores.
Mas, como já havia mencionado, o efeito foi bom. Douglas era um cara OK, por isso esperou. Esperou, esperou e esperou. Até um dado momento que finalmente Laura ergueu a cabeça na direção daquele moço alto e ele, aproveitando o embalo da música e as mãos de ambos que já estavam dadas, a beijou!
Uau! Que sensação! Que beijo, que pegada! Não é que ela sabia direitinho como fazer? Não é que a inibição caiu por terra assim que seus lábios colaram nos dele? Nossa, há quanto tempo ela não era beijada daquela maneira! E seguiram assim até a hora que ela quis embora. E olha só que interessante: mesmo tendo chegado com amigos, ele foi embora com ela. Mostrou que ficar ali sem ela não tinha porquê. E isso foi o que faltava para Laura concluir que sua primeira noite de solteira havia sido um presente dos céus... Como um gentleman, Douglas nem mencionou a idéia de passarem a noite juntos. Apenas ligou no dia seguinte... até que puderam se encontrar de novo.

Primeiro beijo dez anos depois - parte 2

Antes de prosseguir a leitura, leia a parte 1 no post abaixo.

Retomando a ficha técnica: Laura , 35 anos, 12 de casada, separada há um mês, saindo pra balada pela primeira vez

Quando a amiga a avisou por celular que não iria mais, já era tarde demais para providenciar uma saída pela tangente... a fila na porta estava uma verdadeira aberração. Como que ela se atreveria a atrapalhar o fluxo de entrada para pagar a reles coca-light e sumir dali? O mico que tanto queria evitar na chegada, certamente seria inevitável na saída. Foi então que decidiu ficar e se misturar com as pessoas na pista de dança... ninguém ia saber que ela estava sozinha...
Laura havia sido a primeira a chegar na tal balada. Primeira ao pé da letra, tirando só os seguranças e a host que são pagos para chegar mais cedo mesmo. Ela não queria pagar mico na fila, lembra? E não pagou mesmo. Logo que chegou, deixou seu carro com os manobristas e foi toda confiante para a porta de entrada. Cumprimentou educadamente os funcionários, passou pela recepção para pegar seu cartão de consumação e seus passos inauguraram a pista da noite. Mas tudo o que viu foi um nada iluminado. Um jogo de luzes coloridas já dançavam sozinhas ao som ambiente pré-balada. Até aquele momento, ela não tinha achado nada esquisito ter sido a primeira a entrar. Pelo contrário, estava se sentindo como quem entra numa loja vazia ou numa sala de exposição. Curiosidade e apreciação falando mais alto.
Até que passou a primeira meia hora e o último gole em sua coca-light foi dado. Gente, e agora? Só entram pessoas em turmas... ou no mínimo duplas - Laura começou a observar o movimento e de repente se viu tomada por um desconforto de sua condição escancarada de solidão. Já sei, pensou ela, vou ao banheiro!
Como os banheiros femininos são úteis nessas horas de desespero! Viva os banheiros! E os celulares, então? Abençoado seja quem inventou que celular tinha que ter joguinhos eletrônicos!
Graças aos joguinhos do celular, Laura pôde ficar sentada no vaso sanitário, de porta fechada, fingindo que estava fazendo xixi. Tudo para os minutos passarem bem rápido e a balada encher logo - assim ela se misturaria na multidão.
Laura chegou a sair e entrar novamente no banheiro umas cinco vezes - contando em minutos, foram pelo menos uns 80. Isso porque ela só poderia parar com esse vai-e-vem quando a pista estivesse cheia... assim, se misturaria aos demais.
Só que a estratégia de Laura teve de ser abandonada antes do tempo. A funcionária limpa-banheiro começou a desconfiar se aquela moça - sim, tô falando da Laura - tava fumando um ou fazendo sei lá o que dentro do banheiro. Sentiu a vassorada na porta bateu como se estivesse levando ela mesma o empurrão. Mais que depressa, desligou o joguinho, pôs o celular na bolsa e saiu do banheiro. Deu tempo de retocar o batom.
Finalmente a pista já estava amontoada. E a musica, ai que bom, era uma música que ela conhecia: "I try to discover...." E lá foi ela se juntar à multidão.

Primeiro beijo dez anos depois - parte 1

Nem no tempo de adolescente Laura sentiu tamanha ansiedade com aquele beijo na boca que estava prestes a acontecer. Douglas. Esse era o nome do escolhido em meio a tantos seres do sexto masculino que rodeavam o ambiente com seus copos de bebida na mão, disfarçando, claro, o olhar atento ao movimento dançante das mulheres com o flash back anos 80.
Laura havia terminado um casamento de 12 anos. Traduzindo: há 12 anos ela beijava um único homem. Pensar em aproximar sua boca à boca de outro que não fosse seu marido provocava um frio na barriga tamanho e uma timidez que ela realmente imaginava que não pudesse mais acontecer.
Mas foi exatamente assim que aconteceu. Tudo o que uma mulher segura e independente de 35 anos não poderia sentir. "Não acredito que tô bancando a menininha tola com esse cara" - era sua mente querendo entender como era possível seu corpo reagir de forma tão involuntária.
Douglas foi um verdadeiro presente dos céus naquela noite. Afinal, sair pra balada pela primeira vez depois de anos não é fácil. Agora imagine sair sozinha pra balada! Pois é... a tal "amiga" de faculdade que Laura encontrou no Orkut furou de última hora o programa alto astral que tinha proposto para o encontro das duas: o lema é se divertir e conhecer novos homens e nada melhor que uma balada flash back para Laura não se sentir um peixe fora d'água.
A expectativa foi tanta que Laura tinha comprado até um jeans novo para estrear na balada. Claro, não há nada mais "in" do que ir de jeans. Mas precisa ser aquele jeans...bem diferente do dia-a-dia. E esse Laura não tinha. Foi feliz comprar. Aproveitou e levou também aquela blusinha preta para disfarçar alguma gordurinha saliente que pudesse despontar.
Já às 9 da noite Laura estava pronta. Ansiosa, decidiu deitar e zapear um pouco com o controle remoto. Afinal, as crianças estavam fora, que delícia que era ficar jogada na cama com a certeza de não ouvir de repente o sonoro "mãaaaee".
Bom, mas quando o relógio marcou 11 da noite, Laura achou que já era hora de ir. Nem pensar pagar mico em fila de balada...