sábado, 9 de agosto de 2008

Primeiro beijo dez anos depois - parte 2

Antes de prosseguir a leitura, leia a parte 1 no post abaixo.

Retomando a ficha técnica: Laura , 35 anos, 12 de casada, separada há um mês, saindo pra balada pela primeira vez

Quando a amiga a avisou por celular que não iria mais, já era tarde demais para providenciar uma saída pela tangente... a fila na porta estava uma verdadeira aberração. Como que ela se atreveria a atrapalhar o fluxo de entrada para pagar a reles coca-light e sumir dali? O mico que tanto queria evitar na chegada, certamente seria inevitável na saída. Foi então que decidiu ficar e se misturar com as pessoas na pista de dança... ninguém ia saber que ela estava sozinha...
Laura havia sido a primeira a chegar na tal balada. Primeira ao pé da letra, tirando só os seguranças e a host que são pagos para chegar mais cedo mesmo. Ela não queria pagar mico na fila, lembra? E não pagou mesmo. Logo que chegou, deixou seu carro com os manobristas e foi toda confiante para a porta de entrada. Cumprimentou educadamente os funcionários, passou pela recepção para pegar seu cartão de consumação e seus passos inauguraram a pista da noite. Mas tudo o que viu foi um nada iluminado. Um jogo de luzes coloridas já dançavam sozinhas ao som ambiente pré-balada. Até aquele momento, ela não tinha achado nada esquisito ter sido a primeira a entrar. Pelo contrário, estava se sentindo como quem entra numa loja vazia ou numa sala de exposição. Curiosidade e apreciação falando mais alto.
Até que passou a primeira meia hora e o último gole em sua coca-light foi dado. Gente, e agora? Só entram pessoas em turmas... ou no mínimo duplas - Laura começou a observar o movimento e de repente se viu tomada por um desconforto de sua condição escancarada de solidão. Já sei, pensou ela, vou ao banheiro!
Como os banheiros femininos são úteis nessas horas de desespero! Viva os banheiros! E os celulares, então? Abençoado seja quem inventou que celular tinha que ter joguinhos eletrônicos!
Graças aos joguinhos do celular, Laura pôde ficar sentada no vaso sanitário, de porta fechada, fingindo que estava fazendo xixi. Tudo para os minutos passarem bem rápido e a balada encher logo - assim ela se misturaria na multidão.
Laura chegou a sair e entrar novamente no banheiro umas cinco vezes - contando em minutos, foram pelo menos uns 80. Isso porque ela só poderia parar com esse vai-e-vem quando a pista estivesse cheia... assim, se misturaria aos demais.
Só que a estratégia de Laura teve de ser abandonada antes do tempo. A funcionária limpa-banheiro começou a desconfiar se aquela moça - sim, tô falando da Laura - tava fumando um ou fazendo sei lá o que dentro do banheiro. Sentiu a vassorada na porta bateu como se estivesse levando ela mesma o empurrão. Mais que depressa, desligou o joguinho, pôs o celular na bolsa e saiu do banheiro. Deu tempo de retocar o batom.
Finalmente a pista já estava amontoada. E a musica, ai que bom, era uma música que ela conhecia: "I try to discover...." E lá foi ela se juntar à multidão.

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