segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Para pensar

Revista da Folha - 05/08/2007

Amor servil

por Francisco Daudt

O senhor uma vez escreveu, no livro "O Amor Companheiro", que todas as mulheres esperam 100% de entrega de seus homens, mas que, se eles cederem a isso, serão imediatamente desprezados. Eu tenho vocação para gueixa, quero agradar meu marido completamente. Corro o mesmo risco?
Não. Os homens são diferentes das mulheres. Você tem o que se chama de "servidão voluntária", o que é encantador para a maioria dos homens.
Homens sonham com mulheres que os admirem, que se entreguem a um amor incondicional, como o das mães, que não os cobrem nem os critiquem. Seu exemplo da gueixa não é por acaso. As mais bem-sucedidas no Japão recebem uma fidelidade incomparável de seu senhor.
É claro que há aqueles que querem uma mulher desafiadora, a quem precisam conquistar a cada momento, como um reflexo de seu fetiche.
As feministas da igualdade vão se irritar com isto, vão querer me massacrar. Mas sua atitude acolhedora permite que você seja feliz como dona-de-casa, porque isso é uma escolha sua.
Não que seja "a postura certa", aplicável para todas. Mas a grande maioria das mulheres traz dentro de si um ovo de jararaca, que eclode e ganha força diante de um marido banana. Se a jararaca ficar forte, elas serão infelizes. Eis porque os homens precisam manter uma tensão ao não se entregarem por inteiro.
Isso mantém o desejo delas por eles, porque o admiram, pois não o dominam. Sua estratégia, fruto do seu desejo, pode ser fonte de felicidade.

Francisco Daudt é psicanalista e escreve quinzenalmente nesta coluna. fdaudt@folhasp.com.br

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